Penas ao vento

Sempre ouvi na igreja a estória de uma intriga causada pela calúnia. A pessoa que sofrera o ataque estaria à beira da morte, com a consciência pesada o caluniador procura sua vítima a fim de obter alguma calma para seu coração. O moribundo caluniado concede o perdão, mas solicita a realização de dois desejos, que recebe pronta resposta do amargurado caluniador:

– Farei o possível para cumprir seus últimos desejos

Então o caluniado solicitou:

– Pegue este travesseiro que está embaixo da minha cabeça, vá até ao morro em frente à minha casa e solte todas as penas ao vento, depois, traga-me o saco vazio.

Não foi difícil soltar aquelas penas de travesseiro ao vento, rapidamente ele estava de volta. Ao receber o saco de pano de volta, o homem à beira da morte fez então o segundo pedido:

– Agora, pegue este saco vazio, volte lá onde você espalhou as plumas e apanhe uma por uma, pena por pena, encha este travesseiro de novo e me traga de volta.

Claro que a missão impossível foi recebida com espanto, e então foram ouvidas as últimas palavras quase que agonizantes do caluniado:

– Você tem o perdão por todas as suas palavras contra mim, mas jamais poderá desfazer o estrago que fez à minha vida e à minha imagem diante de todos.

A estória, apesar de provavelmente ser apenas uma ilustração, não deixa de ser atual e de certa forma necessária em tempos de “Fake News”, das redes sociais cada vez mais exacerbando “bolhas”, certos tipos de divisões na sociedade e de opiniões serem legadas ao vento, muitas vezes sem quaisquer tipos de verificações ou compromisso com a realidade.

A programação do Facebook e a forma como ele tem estimulado as interações o compartilhamento de informações tem cada vez mais feito com que contas individuais sejam desativadas ou até mesmo simplesmente deixem de ser atualizadas. Do ponto de vista comercial, em 2016 a P&G, maior anunciante do mundo, divulgou a mudança na estratégia para o marketing no Facebook, a partir da intenção de diminuir o número de anúncios na maior rede do mundo. Em fevereiro de 2018 a Folha de São Paulo, um dos principais jornais do Brasil, decidiu parar de atualizar sua página na rede, justamente por conta das interações que, segundo a empresa, deixaram de privilegiar a visibilidade do jornalismo.

As decisões e suas motivações são tema inclusive para outro texto, contudo o desejo aqui é notar que há “algo no ar” e são as penas que há tempos estão por aí destruindo reputações, fazendo mal e, infelizmente, de forma deliberada. Por isso esse site/blog, desde 2007 sempre tive um blog, às vezes mais ou menos atualizado, mas a ideia é sempre a mesma, poder conversar, ou não, com as pessoas que realmente desejam se alimentar de algo que seja além de simples penas ao vento e que muitas vezes falta: opinião responsável.

Sei do Grande Desafio que é escrever constantemente e ser lido, mas a ideia é com esta ferramenta poder soltar palavras que realmente marquem, tenham relevância e não fiquem ao relento do vento.

2 comentários em “Penas ao vento”

O que você acha? deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *